O André foi o bebé mais desejado do mundo. Primeiro filho, primeiro neto e primeiro sobrinho, recebeu tanto mimo que era impossível não ficar estragado. Logo na maternidade, as prendas foram tantas que já não cabiam no quarto. E o miúdo era bem engraçado. E até dava boas noites. Começou a palrar cedo e, pelos sete meses, já sentado sem praticamente apoio, balbuciava intensamente, emitindo uma grande variedade de sons. Pelos onze meses de idade, começou a andar sozinho e, na festa do seu primeiro aniversário, fez as delícias dos familiares ao exibir umas quantas gracinhas. Era esperto e aprendia tudo o que lhe ensinavam. Mas não dizia uma única palavra com sentido.
O pediatra sossegou os pais: muitos miúdos só falam mais tarde, pelo que se teria de dar tempo ao tempo... Aos dezoito meses de idade, já corria de forma escorreita, ainda não dizia uma única palavra, embora percebesse tudo. Parecia um mudo. O pediatra do André reafirmou que, na sua experiência, muitas crianças, sobretudo rapazolas, podem falar mais tarde. Mas, quando fez dois anos, as coisas não melhoraram. O pediatra recomendou, então, uma consulta com um pediatra do neurodesenvolvimento, o qual viria a formular um diagnóstico pouco conhecido: Emergência Tardia da Linguagem.