02 maio, 2011

Portuguesas não desistem de ser mães mas só dão filhos únicos

O "tudo se cria" está ultrapassado. Os paradigmas mudaram. Mais de 30% das mulheres em Portugal têm apenas um filho, a mesma percentagem das que na França ou na Polónia têm três ou mais.

As mulheres portuguesas não desistiram da maternidade: a percentagem de mulheres com mais de 49 anos e sem filhos não chega aos 10%. Ser mãe ainda faz parte do projecto de vida, mas a maioria é mãe apenas uma vez. Mais de 30% das mulheres em Portugal têm apenas um filho. É a mesma percentagem de mulheres que em países como a França, a Noruega, a Polónia, a Suécia ou os Estados Unidos têm três ou mais filhos. Os dados de um relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e De-senvolvimento Económico) divulgado ontem - "Doing Better for Families" - situam Portugal no segundo lugar dos países com a taxa de natalidade mais baixa. Atrás da Coreia do Sul vem Portugal, com uma média de 1,32 filhos por mulher em 2009, contra a média de 1,74 filhos por mulher nos 31 países da OCDE. Os nascimentos têm caído nas últimas quatro décadas - uma média de 2,2 filhos por mulher em idade fértil em 1970 contra a média de 1,7 filhos de hoje em dia -, mas se metade dos países da OCDE conseguiu travar a queda nas taxas de natalidade na última década, Portugal não acompanhou essa corrida.

"O problema português", indica o relatório, "não é que as famílias não tenham filhos." "Ao contrário do que está a acontecer noutros países, em Portugal poucas mulheres recusam a ideia de ter filhos. A criança como objecto de realização pessoal e familiar continua a ter muita importância", explica Sofia Aboim Inglez, doutorada em Sociologia da Família e da Vida Quotidiana. A explicação do fenómeno das baixas taxas de natalidade pode estar mesmo na tendência para o filho único. E aqui entrará mais a dureza da realidade que propriamente o desejo dos pais. "O filho único reflecte não o ideal mas a realidade possível", diz Sofia Aboim Inglez. As portuguesas gostariam de ter mais filhos, mas há um conjunto de circunstâncias que as demovem na hora de alargar a família.

As fontes de gratificação que concorrem hoje com o universo familiar, a presença das mulheres no mercado de trabalho, o investimento na carreira e os constrangimentos económicos explicarão melhor porque há tão poucas mulheres a repetir a experiência da maternidade do que propriamente a dificuldade de conciliação entre vida pessoal e profissional, na perspectiva da socióloga. "Embora não seja o mesmo educar uma ou três crianças, essa não é a explicação-chave. O facto de existirem poucas mulheres sem filhos mostra que em Portugal a maioria consegue conciliar maternidade e profissão."

As dificuldades económicas também não explicam tudo. Os números mostram que quanto maiores os níveis de educação da mulher nos países da organização menos filhos ela tem. Em Portugal o cenário não muda: se a mulher é mais qualificada, a probabilidade de ter filhos diminui. "Ter maiores rendimentos podia levar as mulheres a investir mais na maternidade, mas são as mulheres com qualificações intermédias que mais optam pelo filho único. Em Portugal acontece este fenómeno: as famílias com mais filhos ou são as extremamente católicas com dinheiro ou são as mais desfavorecidas, por estarem menos atentas aos métodos contraceptivos", esclarece Sofia Aboim Inglez.

Filhos fora do casamento O número de filhos nascidos fora do casamento triplicou nas últimas três décadas nos países da OCDE: passou de 11% em 1980 para quase 33% em 2007. O significado do que é ter um filho e das condições necessárias para educar uma criança alteraram-se a ponto de representarem "a mais surpreendente das transformações na estrutura familiar da última década". Antes existia "um padrão pré-nupcial", explica Sofia Aboim Inglez. "As pessoas até podiam viver juntas antes do casamento, mas preferiam casar-se antes de ter um filho." Hoje, "a maior escolarização e o facto de os jovens migrarem cada vez mais para os centros urbanos ajudam a explicar que os padrões familiares tenham mudado mais nos últimos dez anos que nos 30 anteriores". 
 
Fonte: Jornal i

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